quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Engana?



Há gana!
Acidentes ocidentais...

Em Gana
Ocidentes acidentais!


Barbara Leite

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Tez necessária


Da lástima em forma líquida
sobra o rímel escorrido na face

judia!

Envergo(nho)-me
pelas chibatadas
rumo ao campo
de concentração

E de novo tentar entender
é correr atrás da sombra
(vão)

Rosto borrado
atualmente antigo

A guerra nada mais é
que a menina que rouba risos

Batendo asas


Cuide-me, com o mesmo dedicar
que uma ave cuida do ninho.

E quando eu, assim passarinho
achar que já é hora de voar,

não tente nem um tantinho
impedir-me de alçar.

Aquiete-se mansinho,
uma hora hei de voltar.

Pra lhe dizer baixinho,
que o mundo é bonito,
mas não se compara
ao seu sorriso

e tampouco ao seu olhar.



Ninno Amorim musicou esse poema! Em breve coloco aqui para vocês ouvirem!

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Desequilíbrio



É só um novo labirinto
e um pouco de desgaste
outro tanto de desgosto

tentar entender o que sinto
que faz essa sensibilidade
transformar-se no oposto

Prefiro disparar lanças
a cultivar câncer

Perdoe essa agressão em escudo
eu lhe quero tanto bem

-Alguém com piedade
Salve-me desse ridículo
Amém !

Deve ser porque estava escuro
e não senti o perfume dos lírios

Talvez porque é maio
E em mim, nenhuma flor

Só raízes de novembro
E agora nova dor

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Muro


Mirei meus olhos de ontem
no retrovisor

Chuviscavam fraquezas
vendo o vôo das borboletas
amputadas

insistiam em encarar o falso
suplicando rações de verdade
como salário do mês trabalhado

Ainda não sabem que nem sempre haverá pão
na padaria suja da esquina

Nem sempre unhas vermelhas
Nem sempre cabides de lamento

Eram ampulhetas viciadas
em crer no infinito
e não viam importância
em distinguir diferença
e indiferença.
Pois sangra da mesma maneira.

Meus olhos de ontem eram restos
que precisava enfrentar.

Como eram nojentos os meus olhos de ontem!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Na luz de todo dia



Renasço diariamente
na ousadia do despertador
Renasço quando erro
e no compromido de Anador

quando abafo o meu berro
amansando grandes fúrias
indenizada em canto negro
surpreendida por bitucas

Há um novo nascimento
na melodia de um som
meu remédio pra lamentos
vida longa aos mil tons

Não tenho motivo pra apuro:

minhas dores graves
amenizadas em agudo


Barbara Leite

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Meretriz em núpcias


Com postura nada tímida
ela insistia
em olhares insinuantes,
que eu percebia
a cada alçar das pálpebras

Era mais baixa que eu
que me equilibrava em salto.
Ensaiava um ar submisso
que chegou como emboscada.

E isto ao invés de me fazer Golias,
me tecia átomo.

Ínfima!
Miseravelmente ínfima!

Quando eu sem pedir licença invadia
as luzes e seus lares
os carros e seus sonhos
os concretos e seus abstratos

Ela sedutora profissional
me flertava
me rondava
me pedia

Eu sabia de sua ausência de castidade
e de todos os seus amantes.

Meus pés fizeram-se nus
Num ímpeto,
minhas pernas se distanciaram
para tal senhora deslumbrante.

E eu amei São Paulo
com toda intensidade.


Barbara Leite

quinta-feira, 3 de abril de 2008

SOPRO


Um índio morre queimado,
indefeso, dormindo.
Descaso.
Morreu.
Problema de exclusão!

Trinta morrem na igreja
de deus, do Quênia.
Peleja.
Morreram.
Problema de uma nação!

Os pais mortos a paulada
ganância, barbárie,
facada.
Morreram.
Problema de educação.

Um menino arrastado,
pela rua, para a morte.
Pecado.
Morreu.
Problema de alienação.

Morrem homens todo dia
que somam-se aos índices.
Ironia.
Morreram.
Problema de coração.


Barbara Leite

segunda-feira, 10 de março de 2008

COM FIANÇA DE FÉ


É preciso acreditar nas ciganas
No jogo de búzios
Na borra de café
No pai de santo
Nos rituais do candomblé

Contenta também umbanda
Ou se preferir, no padre
No bispo, no pastor
Nas imagens
Na puta que pariu
um menino desnutrido

É extremamente necessário acreditar
No desconhecido sorriso
Que deseja bom dia
Na esmola que veio demais
E também na desconfiança
Que a caridade nos traz

Acredite nos brancos,
E nos pretos
Amarelos e vermelhos
E nos seus corações
Que podem ser bons
E também o contrário.

Acredite na intuição
No poder da oração
e da palavra.

Acredite no tudo
Na dor do luto.
Assim evita-se
A crença no nada

Seja o seu maior entusiasta
E creia no que achar que deve
Exceto na descrença.

Não devemos esquecer
pois seria desavença:
A puta pariu um menino desnutrido
que também precisa crer

Barbara Leite

terça-feira, 4 de março de 2008

Quimera


Se eles me vêem na rua
com olhar desesperado
proclamado em lágrima,
apressam-se em concluir:

-É choro de criança mimada!

E ali,
aconchegada na calçada,
meu pranto é santificado
perpetuando a crença
num mundo de caramelos
e almofadas.


Barbara Leite

Esco(h)as


Entre escolas e escolhas,
algo inabalável foi construído.
E essa semente que incomoda
Vem da idéia de pensar em
desperdício.

Não foi desperdício
meu riso.
E tampouco agora,
é meu pranto.

Nas escolas: uma escolha
Nas escolhas: uma escola
E um quê de saudade
Que derramo ao infinito

E essa alma...
que Mira,
é Grande
Verdade
Zambrana

Essa alma
partilha
e segue em paz
intacta.


Barbara Leite

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Ensinamento pras cinzas


Disseram que era importante
saber o nome e sobre nomes
de todos e de tudo

E conhecer o que se sente
E delinear um futuro
(que não nos pertence)

Apontaram o que é pecado
Sugeriram uma trilha
Mas estavam enganados

Eu quero ter coragem
pra dizer a minha filha
que a magia da vida
mais próxima do real,
aprendi dançando marchinhas
numa preciosa paixão de carnaval

Barbara Leite