segunda-feira, 14 de abril de 2008

Meretriz em núpcias


Com postura nada tímida
ela insistia
em olhares insinuantes,
que eu percebia
a cada alçar das pálpebras

Era mais baixa que eu
que me equilibrava em salto.
Ensaiava um ar submisso
que chegou como emboscada.

E isto ao invés de me fazer Golias,
me tecia átomo.

Ínfima!
Miseravelmente ínfima!

Quando eu sem pedir licença invadia
as luzes e seus lares
os carros e seus sonhos
os concretos e seus abstratos

Ela sedutora profissional
me flertava
me rondava
me pedia

Eu sabia de sua ausência de castidade
e de todos os seus amantes.

Meus pés fizeram-se nus
Num ímpeto,
minhas pernas se distanciaram
para tal senhora deslumbrante.

E eu amei São Paulo
com toda intensidade.


Barbara Leite

quinta-feira, 3 de abril de 2008

SOPRO


Um índio morre queimado,
indefeso, dormindo.
Descaso.
Morreu.
Problema de exclusão!

Trinta morrem na igreja
de deus, do Quênia.
Peleja.
Morreram.
Problema de uma nação!

Os pais mortos a paulada
ganância, barbárie,
facada.
Morreram.
Problema de educação.

Um menino arrastado,
pela rua, para a morte.
Pecado.
Morreu.
Problema de alienação.

Morrem homens todo dia
que somam-se aos índices.
Ironia.
Morreram.
Problema de coração.


Barbara Leite