segunda-feira, 10 de março de 2008

COM FIANÇA DE FÉ


É preciso acreditar nas ciganas
No jogo de búzios
Na borra de café
No pai de santo
Nos rituais do candomblé

Contenta também umbanda
Ou se preferir, no padre
No bispo, no pastor
Nas imagens
Na puta que pariu
um menino desnutrido

É extremamente necessário acreditar
No desconhecido sorriso
Que deseja bom dia
Na esmola que veio demais
E também na desconfiança
Que a caridade nos traz

Acredite nos brancos,
E nos pretos
Amarelos e vermelhos
E nos seus corações
Que podem ser bons
E também o contrário.

Acredite na intuição
No poder da oração
e da palavra.

Acredite no tudo
Na dor do luto.
Assim evita-se
A crença no nada

Seja o seu maior entusiasta
E creia no que achar que deve
Exceto na descrença.

Não devemos esquecer
pois seria desavença:
A puta pariu um menino desnutrido
que também precisa crer

Barbara Leite

terça-feira, 4 de março de 2008

Quimera


Se eles me vêem na rua
com olhar desesperado
proclamado em lágrima,
apressam-se em concluir:

-É choro de criança mimada!

E ali,
aconchegada na calçada,
meu pranto é santificado
perpetuando a crença
num mundo de caramelos
e almofadas.


Barbara Leite

Esco(h)as


Entre escolas e escolhas,
algo inabalável foi construído.
E essa semente que incomoda
Vem da idéia de pensar em
desperdício.

Não foi desperdício
meu riso.
E tampouco agora,
é meu pranto.

Nas escolas: uma escolha
Nas escolhas: uma escola
E um quê de saudade
Que derramo ao infinito

E essa alma...
que Mira,
é Grande
Verdade
Zambrana

Essa alma
partilha
e segue em paz
intacta.


Barbara Leite